quinta-feira, 23 de novembro de 2023

TEXTOS DOS ALUNOS - DESAFIO DE OUTONO

 O VENCEDOR DO DESAFIO SERÁ ANUNCIADO NA PRÓXIMA SEMANA...


RICARDO MARGAL, 11°G

A Infinita Prisão  

 

  “Sinto-me preso.”. Quantas vezes não ouvimos alguém dizer isto? Eu sinto-me assim, enjaulado. Enjaulado dentro de mim, dos meus pensamentos, sentimentos e liberdades.  

  É estranho pensar assim. Estranho porque vivo num mundo onde, em vez de estar a escrever isto, podia estar a comprar um bilhete de avião e num estalar de dedos aterrar noutra ponta do mundo. Se sou livre para fazer o que quero, porque não quero ser livre? Era tão fácil, muito mais fácil que viajar até à Austrália. Era só libertar-me. Mas de quê? Oh, eu sei lá. Talvez também seja esse o problema. Como posso escapar de algo que não sei o que é? 

  Questões, muitas questões. Difícil é chegar às respostas. Para isso é preciso pensar e se pensar bem talvez seja o pensar muito que me mantém preso. É irónico, porque pensamos que a cada novo pensamento vislumbramos um novo horizonte e acendemos uma nova luz que ilumina o nosso cérbero. 

  Escrevo frustrado e pesaroso: encontro-me colocado perante uma contradição que não vejo forma nenhuma de solucionar. Estou preso em mim mesmo, na minha realidade que é tão insignificante quanto as outras 7 mil milhões de ficções presentes neste mundo. 

  Querem um conselho? Fujam, fujam da vossa prisão — não se algemem ao que não existe. Porque afinal de contas… quem somos nós fora da nossa infinita prisão? 

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Excerto utilizado:  «... escrevia frustrado e pesaroso, encontro-me colocado perante uma contradição que não vejo forma nenhuma de solucionar.» - As Intermitências da Morte, José Saramago 

VICENTE SANTOS, 7º K

Autobiografia 

 

No dia 25, nascia um menino, não Jesus, mas sim eu... 

Decorria o ano de 2010, no mês de setembro, numa manhã de sol. Cresci num ambiente singular. Transporto comigo histórias engraçadas que merecem um registo. Tenho uma dívida de gratidão para com todos os que acompanharam a minha infância, tornando-a num tesouro que ninguém me pode roubar. Entre viagens, histórias, aventuras e mimos, muito fica por contar... Aprendi a tocar flauta, ainda na barriga da minha mãe, coincidência... sei que a minha mãe aprendeu flauta na banda da sua terra. Hoje, frequento o ensino articulado e pratico basquetebol, onde sou capitão de equipa, ajudando colegas e treinador em muitas decisões. Devoro livros. Sou nomofóbico. Gosto de caril, não gosto de sushi! 

Brinco com a matemática, mas não faço o pino a ginástica. 

Apesar dos 13 anos, já tenho carácter de adulto. 

 

Ana Maria Magalhães “Tudo tem o seu tempo” Autobiografia 

“Cresci num ambiente singular. Transporto comigo histórias engraçadas que merecem um registo. Tenho uma dívida de gratidão para com todos…” 

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VASCO LEAL, 10º A


Sábio pedante 

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Os beijos que sonhei prà minha boca!... 

Distantes os julgara minha natureza oca, 

Sombrios os cuidara mente minha de derrota: 

Impossível revelara real minha vil aposta. 

 

A face que ela ostentava, 

Olhar intenso e penetrante, 

Seu dom divino contemplava: 

Férreo punhal acutilante. 

 

Serena era em apatia, 

Que relaxante mais quebrava, 

Esculpida a ouro, a tal polida, 

Singelo verso superava. 

 

Fora por ela derradeiro, 

Mergulho meu saltitante, 

Tom repetido em vão desfeito, 

Enorme armada degradante: 

Tirano pulsa meu despeito, 

Malvado ser, sábio pedante. 


ESPANCA, Florbela, Sonetos, Maia, Contemporânea, 2011. p.49 

 



CAROLINA VIEGAS, 9º F


Montanhas valiosas 


Passo pelos caminhos mais mágicos e sento-me, de modo a observar as altas montanhas. 

Repentinamente tudo se torna numa incógnita. 

O que estarão elas a fazer? Porque olham para mim dessa maneira? A verdade é que vejo as coisas assim. Nunca consegui perceber qual a razão de tudo o que nos rodeia ir ao nosso encontro. Mas, talvez o erro em mim viva. As montanhas não se movem e não têm utilidade… 

Observando com mais atenção, reparo que o sol está por cima delas. No entanto, sei que não me deixo iludir por ele. Decido pôr-me em pé e, à medida que começo a andar, percebo que me segue. Pelo menos o sol é capaz de me acompanhar.... Olho-o fixamente e fere-me os olhos. Sabia que isto ia acontecer, mas a sua magia cativou-me. 

Se não me tivesse afastado das montanhas, elas ter-me-iam tapado aquele raio solar enfeitiçado.  

Elas estão situadas onde precisam de estar, onde desempenham a sua função. Afinal não são inúteis. Por algum motivo foram feitas para ali estarem… 

Volto a sentar-me em frente daquelas tenebrosas irregularidades da natureza e questiono-me sobre a sua capacidade de, naquele momento, conseguirem enfrentar o sol. Eu, por exemplo, não sou capaz de o encarar, mas as montanhas fazem com que pareça fácil.  

O sol é poderoso e todos gostam dele. Já as montanhas são tão pesadas! Porém, dão-nos uma conexão com a natureza e transmitem-nos força quando precisamos.  

Decido levantar-me e despeço-me delas, seguindo o fio dum sonhar obscuro onde invento o real. Nunca deixarei estes pensamentos estranhos e especiais.  

Por vezes os elementos que consideramos neutros e insignificantes, são os que mais nos ajudam. Pela sua simplicidade, pela sua presença e pela forma como nos protegem dos quentes e perigosos raios de sol. 

No final deste sonhar, as montanhas são só elevações da terra e o sol é apenas a estrela do sistema solar…


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Frase: “Seguindo o fio dum sonhar obscuro /Onde invento o real.”, livro POESIA (página 45) de Sophia de Mello Breyner Andresen








Ana Madalena Amaral Manarte, 12ºC

  

  There are such things as ghosts. People everywhere  have always known that. And we believe in them every  bit as much as Homer did. Only now we call them by  different names. Memory. The unconscious.” 

Todos os dias, levantamo-nos de manhã e deitamo-nos à noite. Todos os dias, procuramos por um propósito. Algo que nos preencha a alma e que nos diga para continuarmos, porque vale a pena. Procuramos responder à questão que o Homem se tem perguntado desde o início dos tempos: Quem sou eu? E eu respondo o seguinte: somos as nossas memórias.  

Tudo começa quando somos crianças. Na nossa infância, o mundo parece-nos desfocado, algo que hoje me parece uma bênção. Os sonhos dos meus primeiros anos consistem no cheiro de bolos acabados de sair de forno, nas tardes que passei a pintar e a cozinhar com a minha mãe, a pomada que me punham nos joelhos quando os esfolava, e de quando a minha maior preocupação era não ouvir quando me chamavam para jantar da porta de casa à medida que os candeeiros da rua se acendiam. Pinceladas de um passado cada vez mais longínquo, onde a inocência provinha da ignorância.  

Ouço dizer que não sou definida pelos meus pensamentos ou pelas minhas ações. Mas então, o que faz um carácter? O que é que me define? Os meus passatempos? As coisas que amo? As minhas adversidades? Eu acredito que o meu carácter é definido pelas experiências pelas quais passo, e consequentemente pela maneira como me recordo delas. Desde as tardes que  passei a ver a chuva a escorrer pelas janelas do meu quarto, o meu primeiro  amor, os livros que lia vezes sem conta quando mais nova, as horas sem fim que  dediquei a pintar, quando o meu adorado treinador escolheu outra pessoa como  sua predileta, quando mais tarde desisti do meu desporto que durante anos foi  a minha maior paixão, os cadernos que preenchi com os meus pensamentos, as  discussões, quedas, perdas... Memórias são pessoais e únicas, uma imagem da  nossa perspetiva em relação a tudo o resto: elas influenciam-nos à medida que  fazemos escolhas, quer sejam por afeto a um evento prévio ou a uma repulsa  pelo mesmo. São as bases das nossas decisões, e assim acabam por decidir em que nos tornamos. 

As memórias, no entanto, podem ser a nossa maior bênção e a nossa maior maldição. Ao mesmo tempo que sou perseguida por recordações, o meu pior pesadelo seria perdê-las, porque também eu me perderia com elas.  

Memórias são fantasmas. Perseguem-nos até os cantos mais escuros e assombram-nos quando dormimos. Aparecem quando menos esperamos, e assustam-nos com a ideia de viver algo que não é o presente.  

Podemos regressar ao passado todas as vezes que quisermos, mas já ninguém lá está. Estamos a rever o mesmo filme incessantemente, esperando que o fim mude. No fim, cabe-nos a nós mesmos despedirmo-nos dos nossos fantasmas como o nosso mais doce e antigo amigo, porque nos acompanharam durante a nossa jornada até aos dias de hoje. Hoje, beijo-lhe a testa e digo “Podes descansar.”.  


 Donna TarttThe Secret History