terça-feira, 29 de novembro de 2022

Estocolmo (Desafio 1)


 - Não acho justo.

 Desde o último feriado que não se encontravam. Andrei não aparecera na semana anterior e nem tentou justificar a sua falta. Quando Vanessa lhe perguntou a razão de não ter vindo ele respondeu simplesmente “Não pude vir”.

 Andrei olhou para o lado, com indiferença, sem intenções de se sentar. A mulher prosseguiu, procurando agora a sua atenção.

 - Desde aquela noite que não paro de pensar em nós...

 - Qual “nós”, Vanessa?

 Andrei, que olhava agora seriamente para os olhos da mulher, num sentimento de cólera que o invadia, não podia compreender. Há meses que tudo se havia passado. Mas ela insistia em encontrar-se, semana após semana, no mesmo parque, no mesmo banco, à frente do bar onde ele a tentara, há dois meses, contra a sua vontade.

 Vanessa rompeu em lágrimas.

 - Eu nunca quis isto, entendes? Eu tenho de viver como se nada daquilo tivesse acontecido, mas a cada dia que passa sinto o ar que respiro ficar mais espesso, e tento adormecer sobre o sufoco que é não dizer nada a ninguém. Quando estou contigo, parece que não sofro porque quem mergulha no fundo do poço tem de suster a respiração…

 Secou os olhos com a manga do pulôver.

- Sinto-me dividida.

 O homem, ajeitando os punhos do casaco, puxou o fumo do seu cigarro, apagou-o no poste de iluminação e disse, distante:

 - Multiplica-te.

 

 Gabriel Duarte, 12°C


゚・✻・゚・✻・゚゚・✻・゚・✻・゚゚・✻・゚・✻・゚゚・✻・゚


Obrigada pela tua participação!

A equipa Entrelinhas

  

Sem comentários:

Enviar um comentário