- Não acho justo.
Desde o último feriado que
não se encontravam. Andrei não aparecera na semana anterior e nem tentou
justificar a sua falta. Quando Vanessa lhe perguntou a razão de não ter vindo
ele respondeu simplesmente “Não pude vir”.
Andrei olhou para o lado,
com indiferença, sem intenções de se sentar. A mulher prosseguiu, procurando
agora a sua atenção.
- Desde aquela noite que não
paro de pensar em nós...
- Qual “nós”, Vanessa?
Andrei, que olhava agora
seriamente para os olhos da mulher, num sentimento de cólera que o invadia, não
podia compreender. Há meses que tudo se havia passado. Mas ela insistia em
encontrar-se, semana após semana, no mesmo parque, no mesmo banco, à frente do
bar onde ele a tentara, há dois meses, contra a sua vontade.
Vanessa rompeu em lágrimas.
- Eu nunca quis isto,
entendes? Eu tenho de viver como se nada daquilo tivesse acontecido, mas a cada
dia que passa sinto o ar que respiro ficar mais espesso, e tento adormecer
sobre o sufoco que é não dizer nada a ninguém. Quando estou contigo, parece que
não sofro porque quem mergulha no fundo do poço tem de suster a respiração…
Secou os olhos com a manga
do pulôver.
- Sinto-me dividida.
O homem, ajeitando os punhos
do casaco, puxou o fumo do seu cigarro, apagou-o no poste de iluminação e
disse, distante:
- Multiplica-te.
Gabriel Duarte, 12°C
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Obrigada pela tua participação!
A equipa Entrelinhas
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